"Vivo em relação à São João o mesmo sentimento que tantas pessoas mantém
com relação aos seus lugares queridos: mantenho-me mais distante, para
que a ferocidade do presente não ofusque a clareza com que guardo na
memória e no sentimento, a minha cidade. A cidade que vive em mim" Andrea Neves.
Foto: @rodrigoaraújo |
A fundação
de São João del-Rei remonta ao início do século XVIII, por volta do ano de
1704, data que ainda causa divergência entre os historiadores. A ocupação deu
origem ao Arraial Novo do Rio das Mortes que, posteriormente, daria nome a uma
das maiores e mais antigas comarcas das Minas Gerais: a Comarca do Rio das
Mortes. Em 1713, o arraial é elevado à categoria de vila, recebendo o nome de
São João del-Rei. A origem de São João del-Rei confunde-se com a corrida pelo
ouro que, num curto espaço de tempo, povoaria a região central da Capitania de
Minas Gerais. Passados mais de 100 anos, em 1838, período em que já contava com
um teatro municipal e uma biblioteca pública municipal a vila torna-se cidade.
Foto: Museu Regional |
A cidade tinha uma posição geográfica privilegiada pois era
cortada pelas principais estradas que davam acesso ao centro da capitania. Isso
fazia da cidade passagem obrigatória aos que se dirigiam ao território das
minas.[1]
O reflexo da pujança econômica da região ainda pode ser vista hoje
na beleza do seu conjunto arquitetônico presente nas igrejas, nas pontes de
pedra, no casario histórico e na influência que os cidadãos são-joanenses
exerceram e ainda exercem na cultura e na política nacional, como o alferes
Tiradentes, o político Tancredo de Almeida Neves, o jornalista Otto Lara
Rezende, o músico José Maria Neves e o cardeal Dom Lucas Moreira Neves, entre
outros.
A cidade ficou conhecida também por seus famosos educandários,
como o Colégio Nossa Senhora das Dores (internato feminino) e o Colégio Santo
Antônio (masculino), que no início do século XX abrigaram estudantes advindos
de várias partes do país.
Na música, a vida cultural da cidade era marcadamente
efervescente, tanto no aspecto sacro quanto no profano, através de seus grupos
orquestrais que exerciam suas atividades desde o século XVIII. Alguns são
atuantes até hoje, como as bicentenárias orquestras Lira Sanjoanense e Ribeiro
Bastos.
Os registros históricos mostram que seu povo convivia com as
atividades sacras e profanas advindas das culturas portuguesa e africana, essas
trazidas pelos escravos que aqui extraíam o ouro e trabalhavam na construção
das belas edificações que perduram até hoje. Muitas das manifestações culturais
populares existentes atualmente, principalmente as religiosas, começaram àquela
época, como a Festa do Divino, as festas das irmandades e confrarias, a famosa
Semana Santa etc. A grande mobilização popular nas atividades culturais da
cidade e mesmo a participação de pessoas das diversas camadas sociais nas
agremiações musicais e teatrais da cidade revelam como a cultura, no sentido do
fazer artístico, sempre foi inerente ao são-joanense. No início do século
passado, eram em grande número os espaços destinados às apresentações teatrais
e musicais, às exibições de filmes e à formação cultural do cidadão.
São
João del-Rei tornou-se, no século XX e ainda hoje, devido justamente à sua
efervescência cultural desde o período colonial, uma cidade que
“respira” cultura, como dizem seus moradores, o que é perceptível aos muitos
turistas que acorrem a Minas Gerais para beber das fontes históricas do Brasil
colonial e imperial.
Vídeo:
Relembrando a história:
São João del-Rei hoje:
[1] Utiliza-se aqui de trechos do texto feito pelo Prof. Ivan de
Andrade Vellasco, São João del-Rei: uma vila imperial (2007, p. 06) para o
suplemento “São João del-Rei: capital da Cultura”.
Texto extraído do artigo: "Uma análise do orçamento destinado
à Cultura na cidade de São João del-Rei ",de Paulo Souza para obtenção do
título de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Social/UFJF.